7 de jun. de 2010

Os Mistérios de Deus e a Doutrina Profunda

Gostaria de sugerir uma diferença entre os Mistérios de Deus e a doutrina profunda. Nas aulas da Igreja, e nas conversas sobre o evangelho às vezes encontramos a expressão doutrina profunda. Ela sempre esta associada há algo pouco conhecido, pouco citado nos discursos das autoridades gerais, e bem pouco mencionado nas obras-padrão. Não encontramos a expressão doutrina profunda nas escrituras. Mas encontramos mistérios de Deus (1 Néfi 10:19) ou segredo de Deus (Amós 3:7).
O Guia de Estudo das Escrituras define mistérios de Deus como “verdades espirituais que só podem ser conhecidas por revelação” (GEE Mistérios de Deus). A doutrina profunda pode ser entendida como os dogmas ocultos e secretos que poucos conhecem ou entendem.

Qual a diferença entre mistérios de Deus e Doutrina profunda?
Os mistérios de Deus só são conhecidos por revelação. A doutrina profunda é encontrada por especulação. Não é fácil conhecer os mistérios de Deus – há necessidade de limpeza de mãos e pureza de coração (tanto as obras da fé quanto as intenções do coração devem ser justas).
É razoavelmente fácil desvendar-se as doutrinas profundas – basta curiosidade, imaginação e extremo anseio por algo misterioso. Os mistérios de Deus sempre edificam (D&C 6:11), as doutrinas profundas sempre causam contendas e divergências de opiniões (Helamã 11:22-23). Os mistérios de Deus emanam, como o nome sugere, de Deus. Mas as doutrinas profundas são quase sempre meias-verdades – escrituras puras corrompidas com filosofias de homens. A doutrina profunda é motivada por Satanás, porque causa erro (3 Néfi 11:28-29). É uma das ferramentas de quem pratica artimanha sacerdotal (2 Néfi 26:29). Os mistérios de Deus são essenciais para exaltação. Eles são conhecidos somente se Deus permitir ao que exercita fé, faz boas obras sem cessar, se arrepende e ora com real intenção (Alma 26:22). Eles são revelados pelo Santo Espírito de Deus (D&C 90:14, D&C 121:45-46) – raramente são mencionados nas escrituras e na fala dos profetas – porque estes são instrumentos para se obter os mistérios. Eles não estão disponíveis no mundo (Jacó 4:8, D&C 42:65, Mateus 13:11). Entretanto muito desses mistérios são reservados aos santos que sobem à Casa de Deus (D&C 105:12, 18; 110). Lá é ensinado o caminho para perfeição, o mistério da Divindade (D&C 19:10; 84:19-22).
Quero dar alguns exemplos de doutrina profunda: “O que vem a ser, e qual a diferença entre curelons e cumons?”; “Qual a temperatura de um corpo celestial?”; “Adão tinha umbigo?”; “Onde esta a espada de Labão?”
Embora essas perguntas sejam interessantes e até instigantes, as repostas não são essenciais para exaltação, nem edificarão os atributos de Cristo necessários para viver com Deus. Os mistérios de Deus são verdades preciosas muito mais recompensadoras, por exemplo:
“Como posso assegurar minha vida eterna ao lado de Deus?”; “Qual o significado dos símbolos do sacerdócio?”; “Como a Expiação pode ajudar-me neste momento de extrema dificuldade?”; “Quem é o Espírito Santo e como ele pode revelar-me tal verdade?”
Os mistérios de Deus sempre conduzem a ação justa. Eles sempre nos tornam mais parecidos com Deus. Devemos buscá-los. Mas não é útil buscar conhecer doutrinas profundas que causarão bagunça na mente e apostasia no coração.
Gosto muito da história da conversa entre Cristo e a mulher Samaritana em João 4. Lá há uma clara distinção entre uma doutrina profunda e um mistério de Deus. A mulher, reconhecendo que Jesus tinha dons especiais quis saber onde ela deveria adorar: se em Jerusalém ou em sua própria terra (João 4:19-20). Aquela questão já causara muitos alardes e confusão entre judeus e samaritanos. Cristo propôs algo muito mais importante: o Pai estava buscando os verdadeiros adoradores. Este mistério ele viera revelar. Tão logo Jesus falou sobre o Pai, que era Espírito, ou se importava com as coisas do Espírito – era espiritual (João 4:21-24), ela disse: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier nos ensinará tudo” (João 4:25). Jesus Cristo revelou que ele era Jeová e o messias prometido (João 4:26). A revelação daquele mistério gerou a conversão e não a contenda. Os mistérios levam às águas vivas (João 4:14). E aquele tipo de mistério podia ser divulgado. Há outros que não o devem.

Como aprender os mistérios de Deus e qual sua importância?
“É dado a muitos conhecer os mistérios de Deus; é-lhes, porém, absolutamente proibido divulgá-los, a não ser a parte de sua palavra que ele concede aos filhos dos homens de acordo com a atenção e diligência que lhe dedicam. E, portanto, aquele que endurecer o coração receberá a parte menor da palavra; e o que não endurecer o coração, a ele será dada a parte maior da palavra, até que lhe seja dado conhecer os mistérios de Deus, até que os conheça na sua plenitude. E aos que endurecerem os corações, a eles será dada a menor parte da palavra, até que nada saibam a respeito de seus mistérios; e serão daí escravizados pelo diabo e levados por sua vontade à destruição. Ora, é isto o que significam as correntes do inferno” (Alma 12:9-11).
Os mistérios de Deus levam a vida eterna (D&C 6:7). Deixar de aprendê-los é o mesmo que deixar-se ser amarrado por Satanás (2 Néfi 1:21-27).
É preciso ter a confiança de Deus. Ele é misericordioso e deseja revelar seus mistérios a seus filhos (D&C 76:5-10). De fato, ele o faz abundantemente. Todavia há requisitos. Se um mistério for revelado sem que os requisitos sejam atingidos não há benção – há maldição (Jacó 4:14). Se recebêssemos todos os mistérios com nossa mente finita, neste instante, apostataríamos – pois não podemos suportar tudo agora (D&C 50:40, 78:18, 136:37). O Senhor se revela linha sobre linha, preceito sobre preceito (2 Néfi 28:30). Quando ele o faz exige que seu segredo seja mantido em sigilo (Alma 12:9). Isso para que haja salvação, em vez de condenação (João 16:12). Seu segredo é para os que o temem (Provérbios 3:32). Esse conhecimento é essencial para vida eterna e felicidade sem fim (D&C 11:7, 42:61; 2 Néfi 9:43).
Aprendemos esses mistérios tendo um desejo forte (Alma 29:4, Salmos 37:4, 1 Néfi 10:19). Pedindo com real intenção (Moroni 10:3-5). Guardando os mandamentos (D&C 63:23). Tendo paciência para aguardar a resposta e esperança de que um dia receberemos o entendimento. Vigiando e orando (3 Néfi 18:15), ou em outras palavras, prestando atenção à revelação, estando em espírito de oração. Freqüentando lugares santos. Sendo gratos e humildes. Pedindo mais. Examinando com diligência as obras-padrão (João 3:39, Alma 17:2-3) e palavras dos profetas vivos (Mosias 2:9). Também atentar para as interações com as pessoas e com a Criação. Não revelando o que já recebemos a menos que o Espírito indique (ver também D&C 88: 49-86).

“Que poder deterá os céus? Seria tão inútil o homem estender seu braço débil para deter o rio Missouri em seu curso ou fazê-lo ir correnteza acima, como o seria impedir que o Todo-Poderoso derramasse conhecimento do céu sobre a cabeça dos santos dos últimos dias” (D&C 121:33).
A vida eterna é conhecer a Deus e a Jesus Cristo (João 17:3). Esse conhecimento vem por revelação. Satanás esforçasse muito para que a comunicação sagrada seja interrompida. Ele cria desvios e distrações para que os mistérios não nós sejam revelados. Se não entendermos a verdade seremos aprisionadas por ele. Se nos contentarmos em conclusões especulativas pecaremos. É muito melhor, como Joseph Smith disse, olhar para o céu e compreender em cinco minutos, mais do que tudo o que foi escrito sobre o assunto.
Eu sei que há mistérios ocultos e sagrados.Sei disso, porque já recebi alguns deles. Evidentemente eu não os revelo neste blog! Nem ouso comentar sobre eles nas aulas e conversas. Às vezes, por inspiração de Deus eu os compartilho – e eles sempre edificam. Nessas ocasiões freqüentemente recebo mais deles. Sei como recebê-los. Não há nada que o Senhor não saiba. Tão logo eu esteja pronto compreenderei tudo, tal como Ele. E nessa ocasião terei Vida Eterna. Sei disso.

5 comentários:

Anônimo disse...

Assim como dizemos "Sacerdocio Maior" ou "Sacerdocio de Melquisedeque" Ao invez de "Santo Sacerdócio, segundo a Ordem do Filho de Deus" afim de evitar pronunciar o nome sagrado do pai celestial, chamamos os "Misterios de Deus" simplesmente de "Doutrinas Profundas". Essa distincao de nomes que voce encontrou nao eh muito tratada dentro da igreja, assim como nao vemos lideres referindo-se a Satanas e Diabo como seres diferentes, dizemos apenas "Inimigo" pois isso ja basta para referirmo-nos a eles.

VKIKUCHI disse...

Suas reflexões são boas, Lucas. Mas eu ñ chamaria definições ainda não resolvidas de doutrina profunda. P.ex: “O que vem a ser, e qual a diferença entre curelons e cumons?”; “Qual a temperatura de um corpo celestial?”; “Adão tinha umbigo?”; “Onde esta a espada de Labão?” - concorda q isso são definições ou fatos não resolvidos ou não revelados ou não conhecidos?

Doutrina é um ponto do Evangelho, um conceito fundamental da Eternidade. P.ex: Dízimo, Palavra de Sabedoria, Humildade, Dom do Espírito Santo, a Luz de Cristo. Claro, complementando isso, temos os princípios que, a rigor, é a doutrina aplicada: pagamos 10% de tudo o que recebemos (baseado na doutrina do dízimo); não ingerirei álcool, café, fumo (baseado na Palavra de Sabedoria); ouvirei o profeta na Conferência Geral e seguirei seus conselhos (baseado em humildade) e aí vai...

Mistérios de Deus não revelados podem ser muito simples para alguns e complexos para outros. Veja o exemplo de seus pais: o que levou um casal largar tudo e ir para a missão ao invés de se casarem? O que faz um Bispo sair de casa às 2 hs da manhã para arbitrar uma briga de casal? Pq ir à Igreja num domingão ensolarado ao invés de ir à praia, campo ou clube? Pq ficar a estudar as escrituras no domingo à tarde ao invés de assistir à final do campeonato?

Meus amigo, essas e inúmeras outras questões são absolutos mistérios para a maioria das pessoas q ñ estão "familiarizadas" com Deus e Seus costumes, entende?

É óbvio q existem outros mistérios, muitos outros... Mas começamos a entendê-los pouco a pouco, pouco a pouco...

Lucas Guerreiro disse...

Eu entendo seu ponto de vista. Concordo completamente. O termo "doutrina" esta sendo usado de maneira muito ampla no meu texto. Isso porque aqueles que se interessam por assuntos que o Senhor decidiu não revelar, e insistem neles, pouco se importam com a verdadeira e clara doutrina.
Não irei mudar o texto, mas manterei o seu comentário, que acrescenta muito a postagem original. Muito obrigado Valério!

Ricardo Político disse...

Adorei muito o texto e todas as colocações e reflexões expostas, sempre penso muito em todas essas questões, e quanto mais me aprofundo em assuntos do evangelho, mais me dou conta que os quatro primeiros princípios do evangelho (fé, arrependimento, batismo e o recebimento do Espírito Santo), serão também os últimos princípios a serem exigidos para nossa admissão no Reino de Nosso Pai Celestial, daí, a importância de aprendermos tudo o que pudermos nessa vida sobre esses princípios, nos levarão a compreensão das doutrinas mais aprofundadas do evangelho. Obrigado a todos por suas brilhantes e esclarecedoras colocações. Um abraço.

Anônimo disse...

"A doutrina, quando compreendida, muda o comportamento ".